“I once said greed is good, now it seems it’s legal"
A ganância nada tem de estranho à natureza humana. O egoísmo, a necessidade de garantir o máximo de segurança e de auto-preservação não passam de versões do mesmo mal, apenas mirradas. Qual é o ser humano que não gostaria de garantir que tinha sempre à sua mão, num estalar de dedos, a comida, o conforto, o submissão e o respeito de todos, incluindo dos seus potenciais adversários. Sem esquecer, claro, que se cumprisse o sonho de livre acesso aos meios de perpetuar os seus genes em detrimento dos concorrentes.
Nada de novo, portanto.
O capitalismo nada mais é do que o pior (e o melhor) da natureza humana, a uma escala colectiva, à escala económica. Como se fosse a soma dos instintos básicos de todos os indivíduos que nele participam. Karl Marx – hoje em dia tão revisitado - percebeu a nossa incontornável propensão para o disparate – leia-se destruição – e anteviu que o capitalismo resultaria em crises económicas como resultado de bolhas especulativas, a concentração empresarial e a tal criação de um exército de reserva industrial, constituído pela massa de desempregados, que cresceria sempre, indefinidamente, inclusivamente à custa da absorção dos empresários falidos que se tornariam em trabalhadores. Esse exército de reserva industrial bloquearia o crescimento dos salários e, consequentemente, haveria cada vez menos redistribuição da riqueza produzida pela economia, acentuar-se-ia a tendência para a concentração do capital nas mãos de uma elite e a corrida para aquilo que chamaremos de o fim da história.
Claro está, Karl Marx era um clássico e depois dele muito aconteceu. A história encarregou-se de demonstrar o quanto alérgico é o espírito humano a construções económicas artificiais como o comunismo, como também, por outro lado, não deixou de esclarecer que o capitalismo não se pode deixar a monte. Na minha perspectiva, a natureza – neste caso, a natureza humana – encontra sempre uma alternativa de rejeitar ou de se livrar dos espartilhos ou camisa-de-forças que a limitem ou lhe forcem os instintos. E esta realidade tanto é válida para o sonho do comunismo que findou com a queda do muro de Berlim como também os perigos das construções neoliberais, aceleradas pela ganância do sector financeiro que reclama menor regulação, sobrepondo uma economia virtual à economia real.
Como referiu Reihold Zippelius, em A Teoria Geral do Estado, A insaciabilidade da liberdade destrói a democracia (Cícero – Da República) Quanto mais fortemente os interesses pessoais e os grupos de interesses determinarem a vida social dum povo e quanto menos aqueles interesses estiverem prontos a subordinar-se voluntariamente a uma composição justa entre eles, tanto mais indispensável se torna a regulamentação política. Como se vê, tudo isto é assustadoramente actual.
O direito de conquistar é uma coisa muito comum e de acordo com a natureza, e todas as vezes que os homens que puderem fizerem conquistas, serão louvados por isso ou, pelo menos, não serão censurados. (O Príncipe, Nicolau Maquiavel).
“ It's not about the money. It's about the game between people.”
Gordon Gekko, Wall Street: Money never sleeps, Oliver Stone